quinta-feira, 24 de maio de 2012


CENTRO COMUNITÁRIO SÃO LUCAS 
Começou também com Abrão... 

Era uma tarde de domingo.

Na hora em que as moças se aprontavam para a matiné, aquela jovem, ainda meio menina, contava histórias.

Eram histórias da Bíblia, contadas com o auxílio das figuras em um flanelógrafo, em meio à poeira da recém inaugurada Ceilândia Sul.

Foi assim mesmo. Ao ar livre, sob o forte sol da tarde, que se reuniram as crianças que brincavam na rua, de barriga de fora, nariz escorrendo e pés no chão.

Era um povo humilde que acabara de ganhar o seu tão sonhado lote na Ceilândia, cujo próprio nome indicava a conquista: C E I: Campanha de Erradicação das Invasões. CEIlândia!

A Igreja Metodista  recebera, com a inauguração da nova cidade, dois terrenos. Um na Ceilândia Norte, região para onde foram transferidos os barracos das famílias que já frequentavam os trabalhos na Invasão do IAPI, outro na Ceilândia Sul, o maior deles. Para as proximidades daquele terreno, na Ceilândia Sul, não fora ninguém.  Não havia quem fosse frequentar os trabalhos que lá iriam ser realizados. Não restava outra alternativa, a não ser evangelizar!

E foi assim que o casal Fábio e Priscila e a adolescente Dulcinéa foram para a rua. Reuniram crianças para ouvir histórias. Convidaram aquelas crianças para ouvir mais uma história no próximo domingo, dessa vez no barracão.

O barracão foi construído como tantos outros no início da Ceilândia. De madeira reaproveitada, pintada de cal tingido de rosa. Cor de rosa, para combinar com o piso de cimento vermelhão! O piso, recortado e mal feito.  Mas quem se importava? Era trabalho voluntário, assim como a pintura feita em mutirão.

O primeiro dia de escola dominical... O primeiro aluno, Abrão! Um garoto de uns dois anos de idade. Tal qual o patriarca chamado por Deus para uma terra que lhe seria mostrada, o primeiro aluno que deu origem à uma grande escola dominical, hoje um grande Centro Comunitário, também se chamava Abrão.

No primeiro domingo foram apenas algumas crianças, acompanhadas por suas mães. Nos outros domingos, cada vez mais alunos. Aos poucos, a frequência foi aumentando.

As contribuições financeiras foram chegando. As feijoadas anuais para arrecadar fundos - uma delícia, a especialidade de Dona Elza... – reforçavam o orçamento para a construção do prédio de alvenaria.

Tijolo sobre tijolo, o prédio foi crescendo com a ajuda do mutirão dos irmãos de Brasília e até com gente de fora, que veio do exterior.

Um dia, o prédio ficou pronto! Um marco da Igreja Metodista na Ceilândia Sul!Ali, hoje funciona o Centro Comunitário São Lucas, além da Igreja, uma grande obra social de atenção à infância e adolescência.

E foi assim, contando tantas histórias, que hoje conto essa história para as novas gerações.

Tudo começou assim, com um menino chamado Abrão...

No Reino de Deus, nada acontece por acaso!

Dulcinéa Cassis

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