CENTRO COMUNITÁRIO SÃO LUCAS
Começou também com Abrão...
Era uma tarde de domingo.
Na hora em que as moças se aprontavam para
a matiné, aquela jovem, ainda meio menina, contava histórias.
Eram histórias da Bíblia, contadas com o auxílio
das figuras em um flanelógrafo, em meio à poeira da recém inaugurada Ceilândia
Sul.
Foi assim mesmo. Ao ar livre, sob o forte
sol da tarde, que se reuniram as crianças que brincavam na rua, de barriga de
fora, nariz escorrendo e pés no chão.
Era um povo humilde que acabara de ganhar o
seu tão sonhado lote na Ceilândia, cujo próprio nome indicava a conquista: C E
I: Campanha de Erradicação das Invasões. CEIlândia!
A Igreja Metodista recebera, com a inauguração da nova cidade,
dois terrenos. Um na Ceilândia Norte, região para onde foram transferidos os
barracos das famílias que já frequentavam os trabalhos na Invasão do IAPI,
outro na Ceilândia Sul, o maior deles. Para as proximidades daquele terreno, na
Ceilândia Sul, não fora ninguém. Não
havia quem fosse frequentar os trabalhos que lá iriam ser realizados. Não
restava outra alternativa, a não ser evangelizar!
E foi assim que o casal Fábio e Priscila e
a adolescente Dulcinéa foram para a rua. Reuniram crianças para ouvir
histórias. Convidaram aquelas crianças para ouvir mais uma história no próximo
domingo, dessa vez no barracão.
O barracão foi construído como tantos
outros no início da Ceilândia. De madeira reaproveitada, pintada de cal tingido
de rosa. Cor de rosa, para combinar com o piso de cimento vermelhão! O piso,
recortado e mal feito. Mas quem se
importava? Era trabalho voluntário, assim como a pintura feita em mutirão.
O primeiro dia de escola dominical... O
primeiro aluno, Abrão! Um garoto de uns dois anos de idade. Tal qual o patriarca
chamado por Deus para uma terra que lhe seria mostrada, o primeiro aluno que
deu origem à uma grande escola dominical, hoje um grande Centro Comunitário,
também se chamava Abrão.
No primeiro domingo foram apenas algumas
crianças, acompanhadas por suas mães. Nos outros domingos, cada vez mais
alunos. Aos poucos, a frequência foi aumentando.
As contribuições financeiras foram
chegando. As feijoadas anuais para arrecadar fundos - uma delícia, a
especialidade de Dona Elza... – reforçavam o orçamento para a construção do
prédio de alvenaria.
Tijolo sobre tijolo, o prédio foi crescendo
com a ajuda do mutirão dos irmãos de Brasília e até com gente de fora, que veio
do exterior.
Um dia, o prédio ficou pronto! Um marco da
Igreja Metodista na Ceilândia Sul!Ali, hoje funciona o Centro Comunitário São
Lucas, além da Igreja, uma grande obra social de atenção à infância e
adolescência.
E foi assim, contando tantas histórias, que
hoje conto essa história para as novas gerações.
Tudo começou assim, com um menino chamado
Abrão...
No Reino de Deus, nada acontece por acaso!
Dulcinéa Cassis
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